sábado, 19 de novembro de 2011

Mundo fabricado


Mundo científico e técnico


 A modernidade é uma mistura, ou uma conjunção, de ideias e de realizações sociais. Entre estas últimas, as invenções científicas, e as técnicas que delas decorrem, ao mesmo tempo transformaram o mundo vivido pelos homens e modificaram profundamente as imagens e as representações que tinham de si mesmos e de seu lugar na natureza. Desta última, eles podem ter a sensação de que se distanciam cada vez mais, ou de que ela se distancia, em benefício de um mundo cada vez mais artificial, cada vez mais fabricado. Nos primórdios da modernidade - na verdade durante quase dois séculos - dominou a ideia de que a grandeza do homem reside nesse domínio indefinido da natureza - a natureza exterior  e a sua; todo domínio suplementar é considerado então um progresso, o qual aliás não tem nenhuma razão para se deter. A fatalidade evocada acima, todas as fatalidades serão um dia vencidas pela ciência: era essa a esperança dessa "religião do progresso".

 Desde há muito tempo,essas perspectivas de vitória sobre a necessidade que envolve a condição humana parecem se distanciar, pelo manos a curto e médio prazo. No entanto, uma sociedade generalizada de consumo e de bem-estar sem precedente instalou-se ou se instala em todos os países que seguem esse caminho da modernidade científica, técnica, econômica - a fortiori, podem-se explorar recursos naturais consideráveis em seu território (é o caso de todos que possuem petróleo). Esse bem estar nesta vida terrena parece, pelo menos superficialmente, afastar de muitos a preocupação - ou o temor - quanto a um outro mundo por vir, e nesse sentido ele contribui para a secularização dos espíritos: "Deus", ou o que se chama por esse nome, torna-se inútil.

 Além de uma idade em que as ciências e técnicas invadem o imaginário e a vida cotidiana dos homens, a modernidade nutre um ideal não dito, mas onipresente: adaptar em toda a parte os meios aos fins para obter os melhores resultados com o máximo de eficácia, racionalizar as estruturas da vida coletiva, ou organizar racionalmente as grandes esferas de existência e de produção da sociedade (escola, administração, saúde, economia...). Assim, na vida social, a intervenção do direito torna-se onipresente e tende em toda parte a substituir as relações inter-humanas diretas. Não é de espantar que nessas condições a "burocracia" e o anonimato progridam no mesmo ritmo.

Fonte: A lei de Deus contra a liberdade dos homens 
JEAN-LOUIS SCHLEGEL

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